Há uns dias fui buscar a minha filha Maria à escola e ela diz-me: “Mamã, quem me dera ser como a Manuela*” Fiquei estupefacta! Perguntei-lhe porque é que ela quereria ser como a amiguinha. Ela respondeu: “Porque ela faz sempre tudo direito. Nunca erra nada, é sempre a melhor. E eu faço tudo mal.”
Já há uns tempos tinha notado que este dia poderia estar a chegar, apesar de gostar imenso da escola onde a Maria anda e da professora dela, sempre achei que o nosso ensino, de uma forma geral, peca pela comparação. Vivemos numa sociedade que nos obriga à constante comparação. Vivemos e fazemos tudo perante o que os outros fazem e vivem. E depois com isto surgem as frustrações, as inseguranças e as certezas das incapacidades.
Comparamos desde o nascimento, começam logo as comparações como: “A minha filha nasceu com 38 semanas e sorriu aos x meses, aos y meses já gatinha, aos z meses já tem dentes, aos tantos meses já anda, já fala, já… etc, etc, etc” e vamos passando por essas fases: “Ahh a sério o teu nunca gatinhou? Ah e aos 16 meses ainda não anda? [que escândalo!]”. E enquanto uns se sentem superiores porque o deles começou a andar aos 12 meses, esquecem-se que podem estar a criar problemas àquela mãe que se vai sentir diminuída, que vai ficar com “macaquinhos” na cabeça, a dar voltas e voltas a pensar se deverá falar com o pediatra, para saber qual é o problema [grave] do seu filho. Mas o que é certo é que o seu filho não tem problema grave nenhum. O seu filho só não começou a andar tão cedo porque o sistema dele é diferente do outro. Porque talvez o seu filho irá ter uma motricidade fina muito mais apurada do que o outro, ou porque simplesmente somos todos diferentes uns dos outros.
Voltando à minha filha. Ela estava angustiada. Ela queria ser como a amiga dela, porque na cabeça dela a amiga é perfeita. Tudo o que fazem na escola a menina faz perfeito. Então decidi fazer-he umas perguntas:
“A tua amiga percebe sobre alimentação saudável, como tu?”
“A tua amiga sabe dançar hip-hop?”
“A tua amiga sabe desenhar uma planta de uma casa?”
“A tua amiga come todos os vegetais que tu comes?”
E de repente, a Maria começou a entender que havia coisas que realmente ela fazia com mais empenho e mais capacidades. Expliquei-lhe que todos somos diferentes. Mostrei-lhe que eu sou melhor que o pai dela em muitas situações e que o pai é melhor do que eu em tantas outras. Que todos nós temos gostos variados, prazeres diferentes, aptidões distintas. E que isso é que faz o nosso mundo ser tão rico, tão poderoso e tão diversificado.
terminamos abraçadas uma à outra e supliquei-lhe:
– “Sabes o que eu quero, Maria? Assim mesmo profundamente?”
– “O quê mamã?”
– “Que te ames a ti, com todos os teus defeitos e todas as tuas virtudes. Que tentes ser boa naquilo que gostas de fazer e no que tens de fazer, sem nunca te preocupares se os outros são mais ou melhores do que tu. O que importa é o teu esforço, a tua força de vontade. E que te ames! Queres ser como a Manuela? Não… não queiras. Quero sempre que queiras ser a Maria, só a Maria e mais ninguém.”
Ela chorou… eu confesso que tive de esconder as minhas lágrimas. Sei que neste momento é só o que eu quero, sei que ela está a perder o seu amor próprio… e isso preocupa-me tanto. Ainda não sei como fazer para a ajudar, o que sei cada vez mais é que ao compararmos alguém estamos, inevitavelmente, a diminuir outra pessoa e, consequentemente, poderemos estar a criar problemas graves.
Nada melhor do que ilustrar este momento com o nosso pequeno-almoço diário. O pequeno-almoço favorito da Maria, que me deixa tão satisfeita por ver que cada vez mais ela opta pela comida saudável.
Iogurte natural com granola, chocolate e framboesas
Ingredientes:
1 iogurte natural sem açúcar
Granola (receita aqui – desta vez retirei o coco)
Framboesas q.b.
Chocolate negro 70% cacau q.b.
Mel ou geleia de arroz
Preparação:
Colocar o iogurte na taça. Juntar granola a gosto, framboesas e raspas de chocolate.
Adoçar com o mel ou a geleia.
Notas: O nome da amiga é falso, por motivos óbvios.
Obrigada à minha leitora Carla que me ensinou esta frase tão poderosa “Comparar é diminuir”.
Muito bem dito Maria João, é mesmo isso. Adorei a frase do comparar é diminuir 🙂 Se bem que ainda "me apanho" a mim própria a fazer comparações, indiretamente, muitas vezes 🙁 Especialmente entre os irmãos, mas logo caio em mim e tento corrigir a situação da melhor maneira que consigo.
Claro! Toda a gente os faz, é inevitável, mas podemos e devemos tentar não o fazer de forma acintosa.
Um beijo enorme!!!
Por vezes é impossível não nos compararmos aos demais. Mas não tenho dúvida alguma que a Maria vai crescer com as lições importantes e os ensinamentos melhores de uma mãe que me parece muito sábia.
Adorei a granola com o iogurte, o styling e as fotos.
Grande beijinho
É sem dúvida impossível não haver comparações. Todos nós fazemos.
Obrigada pelas tuas palavras. és sempre incrível comigo.
beijinhos
que bela receita!
Beijinhos,
http://sudelicia.blogspot.pt/
A forma como "olhou" a Maria, a forma como a "tocou", a forma como lhe falou ( com o coração), fizeram toda a diferença na forma como a Maria se sentiu e se irá sentir perante ela, no futuro. Realmente, quando deixamos o coração falar, fica tudo tão claro!
Beijinhos
Muito obrigada Marisa!! 🙂
Beijinhos
Até fiquei arrepiada Maria João….é tão verdade…também passo pelo mesmo com o meu filho, ele tem uma certa tendência para se desvalorizar porque observa os outros e nota que é diferente. Vou tentando contrariar e valorizando os pontos fortes e as capacidades dele, mas não é fácil, requer persistência. Adorei o teu texto, o pequeno almoço e as fotos!
Bjinho
Obrigada Patrícia.. não é uma tarefa fácil, mas acho que se eles sentirem em nós a presença do amor constante e incondicional é meio caminho andado para atingirem a felicidade. Beijinhos
Por isso sempre gostei de trocar experiências com vocês! É isso mesmo, cada um tem que conseguir ser feliz do jeito que é. Melhorar, sempre. Mas subjugar, jamais. E adorei a ideia do pequeno almoco! Vou fazer pró Ju!
Pois… o nosso grupo é incrível.
Um beijão e se fizeres para o Ju mostra 🙂
Acho que essas comparações começam é ainda com os bebés na barriga! Vais ter menina a tua barriga está redonda… o que vais ter menino? Tens a certeza? Essa barriga é de menina… tens a barriga tão baixa? A tua barriga está muito pequena, eu com 7 meses estava o dobro, vais ter um minorca.. Enfim! Aposto que até nos vão fazer comparações nos nossos funerais sabes!! É triste… mas a composição está linda. um beijo
Sem dúvida… estamos sempre a ser comparados, infelizmente.
Um beijão minha linda. Adoro-te!
Essas pequenas fragilidades são as que mais me assustam, quando penso nos meus filhos. mas a Maria sentiu o caminho aberto para falar e o coração ainda mais aberto para escutar o que lhe dizias. A construção é diária e fica ainda mais apetitosa quando acompanhada pelas tuas imagens.
<3 Obrigada!!!
Tento aplicar a receita da auto estima com a Maria lá de casa…
Esse pequeno almoço tem um aspeto ótimo!
Boa semana!
Precisamos tanto de receitas destas. Às vezes para nós mesmas, não é? 🙂
Beijinhos
Maria João, foi muito bonito a forma como chegou à sua filha. É muito importante que as crianças percebam, desde sempre, que cada um de nós é único e diferente dos demais e é essa diferença que torna cada um de nós especial.
Fico feliz por ter partilhado o meu pensamento no outro post e que isso a tenha ajudado e à Maria.
Beijinhos grandes e um xi-coração para a Maria que vai crescer feliz tão bem orientada pela mãe.
Cara Carla, é por esta troca de saberes e pensamentos que cada vez gosto mais de ter um blogue. Obrigada por me comentar de forma tão pertinente!
Beijinhos
Gosto tanto. Beijinhos do coração!
Obrigada! 🙂
Beijinhos enormes
Achei fantastico o prato!
Mark Margo
http://www.markmargo.net (site cor de rosa de celebridades e cinema)
E eu que tenho uma filha pequenina e morro de medo desta sociedade de comparações. Concordo tanto com o que diz. E tenho a certeza que a sua Maria será uma criança cheia de valores.
Tenho também um blog de cozinha e quem me dera ter as fotos como as tuas! estão mesmo fantásticas, gosto muito mesmo 🙂
http://www.petisconamesa.com/
Foi sempre o que mais me magoou na infância… eu era sempre "menos", a segunda.. nunca era a "melhor"…
Só há pouco tempo, pouco mesmo mudei os meus pensamentos, tentei incutir a mim mesma que cada um é bom no que é e ponto. Que todos somos diferentes… mas o "bichinho" pensamento anda sempre lá…
Ao meu filho digo sempre "njnca deixes que te digam que não consegues!"