a Saudade {risotto de figos e Gorgonzola}

Os meses vão passando e o que vai aumentando é uma saudade, enorme, que aperta o estômago e revolve as entranhas. Todos que me conhecem sabem os sentimentos controversos e a relação que mantinha com ele. Feitio difícil, complicado é pouco para o definir… mas o amor era grande, tão grande como só um laço de sangue poderia criar.

O tempo, esse não perdoa, e ao longo dos dias pensamentos como “tenho de ligar ao pai a contar isto; tenho de lhe mostrar aquilo; tenho de comprar isto para lhe dar; só o pai saberia responder àquilo; o que é que ele pensará disto?” A ficha cai. Já não há comunicação possível e em mais nenhum momento vamos estar juntos.


O que mais me conforta é saber que ele sempre soube o quanto eu gostava dele e o quanto prezei por ele. A última mensagem dele para mim foi “bem sei a filha que tenho”
E depois há a comida. A comida que tanto ele me foi ensinando a admirar e a respeitar. Se há coisa que ele adorava era comer bem e sabia apreciar um bom prato. Durante toda a vida foi aberto a novos sabores. Às misturas dos doces com salgados, aos sabores fortes contrastantes, às várias texturas, às mil inovações que se vão fazendo nas cozinhas espalhadas pelo mundo.

Foi ele que me ensinou a apreciar gorgonzola. Recordo-me bem de dizer na escola primária que adorava queijo “azul” e quando as minhas amigas perceberam que era o queijo com bolor acharam que: ou eu seria uma alien, ou alguém doente. Das duas uma! Nunca me importei muito com o que pensavam de mim em relação aos meus gostos pela comida, pois havia coisa melhor do mundo do que gostar de tudo? Nunca tive problemas em estar ou ir a qualquer lado. Qualquer comida que me pusessem no prato eu iria comer. Podia gostar mais ou menos, mas nunca na minha vida disse: não gosto. (Vá… minto, há uma coisa que me custa muito comer, que é javali.)

E por isso, hoje ao fazer este prato pensei tanto em ti, pai. Mil vezes a minha mente me ia pregando partidas: liga ao pai, convida-o para jantar… ele tem de provar esta comida.

Não estás cá fisicamente e no plano em que estás com certeza que estes prazeres não serão importantes, mas a saudade aperta e uma forma de te manter vivo é falar de ti e relembrar-te pelas coisas maravilhosas que tinhas. E recordar em loop na minha mente o dia em que estavas sentado à minha frente a ver-me almoçar e dizeres-me: “Se há coisa que me dá prazer é ver-te comer!”

Risotto de Figo e Gorgonzola

Ingredientes

[Para o caldo]

1 fio de azeite virgem extra
1 cebola com casca
½ alho francês
2 hastes de aipo
½ raíz de funcho
2 dentes de alho esmagados
1 tomate
4 figos
2 hastes de tomilho
1 folha de louro
1 L de água a ferver
Sal q.b.

[Para o risotto]

½ cebola
2 hastes de aipo
1 dente de alho
1 fio de azeite virgem extra
150g de arroz arbóreo ou carnaroli
½ copo de vinho branco
5 figos
70 g de queijo gorgonzola
30 g de queijo parmesão ralado
30 g de nozes

Preparação

Refogue num tachinho todos os legumes para o caldo no azeite. Tempere com o sal e cubra com a água. Deixe cozinhar em lume brando durante 20 minutos.
Coe o caldo e reserve.
Para o risotto, pique finamente a cebola, o aipo e o alho e refogue no azeite. Junte o arroz e deixe refogar bem. Regue com o vinho e deixe evaporar. Junte os figos cortados em fatias e o 50 g de queijo gorgonzola em pedaços.
Em lume médio/alto, adicione 2 conchas de sopa de caldo ao arroz e mexa sempre até evaporar totalmente. Repita este processo, mexendo sempre, até o arroz estar cozinhado. No final, junte o restante queijo gorgonzola, o parmesão e as nozes e mexa bem até obter um risotto bem cremoso. Se necessário, junte mais um pouco de caldo.

a Saudade {risotto de figos e Gorgonzola} Comentários
  1. Parece delicioso e, claro, "saudoso", mas cada vez que vejo uma promoção (natural, leia-se) ao arroz italiano fico triste por ver que as nossas associações de produtores de arroz não se organizam para conseguirem fazer uma campanha mundial (em receitas e notícias em meios como blogues e sites e não actividades de tipo publicitário)em favor do carolino e das maravilhas que se conseguem fazer com ele. Até que podíamos criar um movimento pró-carolino… e com isso inibir a distribuição moderna de nos fazer comprar gato por lebre (vejo bem alguns supermercados com as suas próprias marcas a vender rizotto como sendo carolino – basta perceber um bocadinho de arroz para perceber a enorme diferença de comportamento nas receitas).
    Se eles, produtores, se organizassem… uns quantos bloggers e colocávamos o carolino também na moda. 🙂
    Beijinhos e tudo de bom

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