Meninices e Mesquinhices {Pesto de rúcula e menta}

Há uns dias, estava a arranjar a Maria para tomar banho e ela estava a contar-me um episódio da escola. Referiu o nome de uma amiga/colega que eu não conhecia. Ela disse: “Oh mãe, ela é do 3º ano, é aquela que dança muito bem Hip-Hop, sabes?” Percebi, finalmente, de quem se tratava e resolvi perguntar: “Vocês são amigas?”

Esta minha pergunta surtiu grande conversa:

— Ora bem, somos colegas do hip-hop. Sabes, mãe, nós temos o grupo das meninas do 1º ano e o grupo das meninas do 3º ano. As meninas do 3º estão sempre a ralhar connosco. Dizem que nós fazemos muito barulho e que há aulas abaixo e nós não respeitamos.
— Se calhar têm razão. – disse eu.
— Oh não têm nada. Porque olha, – e coloca a mão direita direita no alto e a mão esquerda mais abaixo – esta mão [direita] é o barulho que elas fazem, e esta mão [esquerda] é o barulho que nós fazemos.
— Sabes uma coisa Maria? Vocês são todas umas chatinhas. Estão sempre a reclamar umas com as outras. – comecei a imitar as meninas todas juntas, com vozes fininhas a discutir: – “Tu é fazes barulho, não tu é que fazes. Não tu é que falaste alto, não tu é que falaste…”
A Maria começou a rir! E eu continuei:
— Se fossem rapazes estariam concentrados em ir contra as paredes e subir os bancos e trepar pelos espaldares. A lutar uns contra os outros… – E comecei a ir contra as paredes da casa de banho, e contra o banquinho, lavatório.
A Maria já se ria às gargalhadas. E, num retorno a quando era bem mais pequena diz:
— E mais, mamã? E se fossem mulheres?
— Se fossem mulheres estariam a dizer: “Oh viste aquele? E aquela que trazia aquelas calças horríveis?” – e fui imitando como se estivessem a contar segredos e a colocar a mão na boca como se algo de muito feio se tratasse.
— E se fossem homens?
Aqui desatei a rir, já estávamos numa conversa bem maluca e animada e resolvi brincar:
— Se fossem homens estariam aos beijinhos.
Ela riu-se à gargalhada e disse, não a sério, como estariam?
Resolvi contar-lhe uma anedota antiga. Nessa anedota duas mulheres encontram-se na rua e abraçam-se: Há quanto tempo não te via, que bonita que estás. E a outra: Ahhh e tu estás tão magra! Que bem? Falam durante algum tempo e depois quando se afastam uma pensa: Meu deus, que camisola horrível, está mesmo descuidada. E a outra: Credo, ela está parece um pau de vassoura. Que magra!
Noutro dia dois homens encontram-se e também se abraçam: Há quanto tempo não te via!!Eh pá estás com uma barriga!! É de quê? De muita cerveja? E o outro: E tu? Olha só essas brancas todas? É a mulher e os filhos que te fazem mal? Depois de muitos risos e trocas de insultos, despedem-se um do outro e o primeiro pensa: Eh pá, o gajo está mesmo porreiro! Está com bom ar. E o outro: Adorei vê-lo, está mesmo com ar feliz. 
A Maria riu-se. E eu disse-lhe:
— Não tem lógica sermos assim, pois não Maria?
— Não… as mulheres não deviam ser assim.
— Pois, mas sabes nós não precisamos de ser assim. Se nós quisermos, e basta querer, podemos ser diferentes. Por isso, Maria, não interessa se é o 1º ou o 3º ano que faz mais barulho. Não temos de estar sempre a discutir.

A Maria abraçou-se a mim e disse: Vou ser melhor. Vou ligar menos a estas coisas pequeninas.

Conto-vos esta história, numa pequena reflexão deste fim: “Vou ligar menos a estas coisas pequeninas”. É tão isto. Só mesmo a Maria para conseguir resumir com a maior das simplicidades toda a conversa que tivemos. No meio dos risos, das cócegas que lhe fui fazendo, de todas as palermices que fui dizendo, tivemos um dos momentos mais importantes de sempre. Este é o exercício para todos nós: “Vamos ligar menos a estas coisas pequeninas!” Quantas e quantas coisas temos assim… pequeninas, mesquinhas, sem importância?

No meio deste pensamento, surgem-me ideias de limpeza de espírito, clareza e simplicidade. Tentar transformar algo básico e simples, em algo único, poderoso e saboroso. E é nisto que acredito… no poder da transformação.  Tal como acontece com este pesto de rúcula.

Pesto de Rúcula e Menta

Ingredientes:

300g de rúcula fresca
1 molho de menta fresca
½ chávena de nozes
1 c. de sopa de queijo parmesão
Sumo de ½ limão
1 c. de sopa de Azeite extra virgem
1 c. de chá de sal

Preparação:

Coloque tudo num processador de alimentos ou robot de cozinha em velocidade média, de forma a que triture tudo, mas sem aquecer.

Na companion cuisine coloque a lâmina picadora na taça e introduza todos os ingredientes. Programe 30 segs. na velocidade 12.
Pode servir com pasta, como recheio de um peixe, como guarnição de tostas, com legumes crus… Use a sua imaginação.
Para conservar, coloque o pesto num frasco hermético e cubra com azeite. Conseguirá guardar no frio durante 5 dias.
Meninices e Mesquinhices {Pesto de rúcula e menta} Comentários
  1. Que lindo momento! Não sei se me deliciei mais com a vossa conversa ou com a tua receita 🙂 Obrigada por este bocadinho querida!
    Um doce beijinho para ti e para as tuas princesas :*

  2. Bom Clavel… amei a leitura do texto, o amor incondicional de vocês e a cumplicidade que se faz sentir. E o respeito: no meio de tantas cócegas e risadas uma mostrou respeito à opinião da outra e, no fim a Maria brilhou. Brilhou muito e ainda mais que sempre. E..Já agora Maria…Obrigada. ..eu precisava desta lição: ligar menos às coisas pequeninas… elas não matam mas moem…e eu preciso voltar a ser wuem era e não dar importância ao wue não tem. Obrigada pequena grande Maria! Fizeste-me rir. Chorar e pensar!
    E Clavel Obrigada por estes posts: cheios de sabor e sabedoria! Bj gd

  3. Gostei tanto, mas tanto deste teu texto. E sabes o que mais me impressionou? Foi aperceber-me que muitas crianças não tiveram estes ensinamentos e hoje são adultos com essas pobres características… Conheço alguns, infelizmente 🙁
    Beijinhos e a tua Maria já e e vai ser uma menina de bem. Parabéns.
    Cláudia

    ps:não te esqueças do que ainda tens de me dizer 😉

  4. Amo suas receitas… E amo as suas histórias e reflexões! Aqui também tenho o meu pequeno que, sempre, aprende e me ensina muito! Adoro pensar e sentir que estou ajudando a "construir" um ser humano de bem. Beijos!

  5. Ora que bem que as minhas meninas conversam…Adorei e tive pena de não participar mas as Bás nem sempre estão presentes!
    Mas para a Maria digo que nem todas as mulheres são assim. Há as que só dizem a verdade sobre os outros e quando a verdade não não é muito simpática nada dizem.
    Lembro-me de um amigo que passou por um momento assustador e teve tempo de pensar na vida e na morte …disse-me que se vivesse o que iria modificar era não ligar às pequeninas coisas…
    A Maria já ,ou ainda, sabe muito…
    Adoro-vos!
    A receita deve ser boa….

  6. Este blogue é uma delícia e desta vez não falo de receitas, faço de ternura e de afectos. Tenho vindo a ler vários posts do blogue e hoje ao partir um abacate, lembrei-me do abacate que a sua mãe esmigalhava com açúcar e lhe dava e logo a seguir, recordei-me de distraída comer o vosso pãozinho com manteiga e isso fez-me rir. Hoje leio este post cheio de ternura, cheio de ensinamentos e de sabedoria, mas acima de tudo, cheio de amor. Parabéns às três, à avó, a Bá (a sua mãe que comentou acima), a si, por ser uma mãe tão preocupada e cúmplice e à pequena Maria, que resumiu tão bem na última frase o que é tão verdade. Três gerações, muito amor. É o que transparece para quem vos lê 🙂

    Um beijinho (para as 3) e obrigada por nos fazerem sorrir.

  7. É isso mesmo… há coisas tão mais importantes. O pior é quando as pessoas que amamos ligam a coisas pequeninas. E fazem dramas. Isso dói mesmo.

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