E hoje? És feliz?

Viver um dia de cada vez, tentar apreciar o que cada dia nos traz parece-me, cada vez mais, ser a chave para a felicidade.

Recordo-me de uma Professora de português, Professora com maiúscula, a Professora Laura Aroso, que tive no meu 9º ano. Foi daquelas pessoas que me marcou para a vida e que me ensinou tanto de português como da própria vida. Tornou a leitura d’Os Lusíadas num dos maiores prazeres de leitura da minha vida. Conseguiu fazer uma turma de 28 alunos apaixonarem-se pelos 10 cantos da obra. Mas hoje falo-vos nela por uma outra situação, uma lição de vida que aprendi aos 14 anos e que ainda hoje me faz sorrir.

Era um dia de primavera, mas eu acordei chateada com a vida. A vida de adolescente não era muito agradável, tinha várias espinhas na cara, os seios praticamente não existiam, o meu corpo era hiper magro. Chamavam-me “esparguete”, “agulha”, “se comes um grão de arroz pareces grávida”, “cuidado com o vento”, “ai, credo, vêem-se as veias no teu corpo de tão magra que és”, “tu é que passeias a tua cadela, ou ela é que te passeia a ti?”, “vê lá, não abras o guarda-chuva, se não viras Mary Poppins!” Ok. Este era o meu dia-a-dia. Muitas vezes não me apetecia ir para a escola. Sofri bastante devido ao meu aspecto físico e agravado com o facto de ser filha de uma professora da mesma escola. Passei por isto durante bastantes anos, desde o ciclo, do 5º ano, que era o que se chama hoje, vítima de bulling. Na época não tinha a sabedoria para inverter o jogo. Se eu própria me risse e gozasse comigo mesma os insultos terminavam, eu ganharia a batalha. Mas como acontece em praticamente todas as vítimas de bulling, elas permitem o insulto e vivenciam-no como se fosse a maior verdade do mundo. Durante muitos anos odiei o meu corpo… e ainda hoje tenho alguma dificuldade em desmitificar tudo, e dou por mim a ser má comigo mesma.

Voltando a esse dia, estava eu a ir para a escola zangada, triste. Durante o caminho para a escola irritava-me tudo, as pedras no chão, um cócó de cão, uma lata vazia sem estar no lixo. Todo o caminho fui a resmungar: “que nojo! que país! que cidade… que gente! Não quero ir para a escola… tenho sono, quero ir dormir.” Em todo o percurso só vi o lado mau de tudo, cheguei à aula, à aula de português. sentei-me na carteira e a professora aproximou-se de mim: “Então João? Que se passa?” -“Nada, professora, só hoje é que não é um bom dia.” A Professora Laura Aroso pegou na minha mão e disse: “Vem comigo!”. Levou-me à porta da escola e perguntou: “Já tinhas visto como está linda esta árvore? Toda florida de amarelo? Já sentiste o cheirinho a primavera? Como pode ser um mau dia?”

Não preciso de vos contar mais nada, pois não? Foi sim uma grande lição de vida, para toda a vida. Temos sempre nas nossas mãos a oportunidade de ver o lado positivo vs o lado negativo. E este é um exercício que podemos fazer diariamente, mesmo que nos permitamos de vez em quando ir a abaixo, mas sempre com a força e determinação de vermos que é possível sermos felizes, basta abrir bem os olhos e apreciar o que nos rodeia.

E para brindar à felicidade, trago-vos uma salada maravilhosa, hiper saborosa, nutritiva, bonita e feliz.

Salada de couscous e vegetais

Ingredientes:

1/2 chávena de couscous
1 chávena de água a ferver
1 limão
2 dentes de alho finamente picados
2c. de sopa de manteiga sem sal
Azeite extra virgem
1 molho de espargos brancos
2 ovos
1 chávena de cogumelos shiitake secos
50g de ervilhas de quebrar (mais ou menos 10 vagens)
Sal q.b.
Pimenta preta q.b.
Sementes de nigella q.b.
Tomilho-limão fresco

Preparação:

1. Coloque a água a ferver com 2 cascas do limão e tempere com sal e pimenta.
2. Coloque numa taça o couscous e verta a água a ferver e tape com um testo de uma panela.
3. Dentro de uma taça coloque os cogumelos secos e cubra-os com água. Reserve.
4. Prepare os espargos. Descasque-os com a ajuda de um descascador de cenouras (pode ver aqui neste vídeo como se descasca um espargo). Prepare as ervilhas de quebrar, tirando-lhes o fio das laterais.
5. Coloque os ovos a cozer. Para isso numa panela encha de água e tempere com sal. Deixe levantar fervura, quando estiverem bem a ferver coloque os ovos e programe num cronómetro 7 minutos. (Quando quero a gema mais crua coloco somente 5 minutos).
6. Numa frigideira coloque um fio de azeite, 1c. de sopa de manteiga e o alho. Deixe o alho estalar. Nesse momento coloque os espargos partidos ao meio no sentido horizontal e os retire os cogumelos da água espremendo bem (não deite a água fora) e meta-os na frigideira. Tempere-os com sal e pimenta a gosto e vá mexendo bem, para que salteiem.
7. Acrescente o resto da manteiga e uma colher de sopa da água dos cogumelos.
8. Junte as ervilhas de quebrar partidas aos pedaços.
9. Deixe apurar.
10. O couscous neste momento já está pronto. Com a ajuda de um garfo solte os couscous e retire as cascas de limão.
11. Descasque os ovos e parta-os às fatias.
12. Coloque o couscous numa travessa e por cima coloque os legumes salteados e os ovos. Polvilhe com as sementes de nigella e o tomilho-limão.

E, hoje? És feliz?

E hoje? És feliz? Comentários
  1. Olha, hoje parece que sou a primeira a comentar, mas como vi a actualização enquanto estava no computador, vim espreitar e fiquei presa ao texto magnífico que escreveste.
    FABULOSO!! Acho que vais ter de começar a decidir-te pelos textos ou fotos e receitas (brincadeira, claro…), pois uns estão a abafar os outros, ou seja, depois de ler este teu texto magnífico, já me esqueci que acompanha uma receita, uma salada, também ela linda por sinal.
    Uma bela lição de vida sem dúvida e é uma tristeza que o bullying continue a traumatizar tantas crianças indefesas, mas tenho esperança que um dia isso acabe e seja controlável e punido.
    Beijinhos grandes,
    Lia.

  2. Olá Maria João,

    Ainda hoje falava com o meu marido acerca da importancia da forma como olhamos para as coisas que nos acontecem! 🙂

    Temos andado numa fase difícil… muito cansados (stress nas suas variadas formas: a cidade; o trânsito; o trabalho; a maternidade, etc.), desanimados com alguns contratempos e a vida parece estar longe daquilo que imaginávamos que seria!

    Sentia-mos que estavamos mesmo a precisar de uma "vida nova"! Mas eis que chegámos HOJE, exactamente à mesma conclusão… não precisamos de uma vida nova, precisamos é de mudar a forma como olhamos para ela! Temos tantas coisas boas e positivas na nossa vida que, aquelas que são menos boas, não parecem assim tão más se as olhármos de uma perspectiva mais positiva! Não quero minimizar o peso das dificuldades, quero antes minimizar o impacto negativo que elas têm na minha vida! 🙂

    A salada tem optimo aspecto, by the way! 😉

    Um beijinho

  3. Todos os dias tento ver o lado possitivo e maravilhoso da vida, nem sempreé fácil… e para mim hoje é um desses dias dificeis 🙁 o que me fez possivelmente ler todo o texto e esboçar um sorriso ao mesmo tempo que me apeteceu chorar.

    A salada tem um ar muito feliz! 😉

  4. Desconhecia esse teu lado menos positivo 🙁 As crianças por vezes podem ser muito cruéis! Adoro a tua saladinha fico feliz por ainda usares os cogumelos secos (não sei se são os que te enviei) mesmo não sendo se ainda usas é porque gostaste 😀 Um beijo

  5. Gostei muito do texto e da receita. Adoro couscous e espargos e agora com este tempo mais quente as saladas sabem sempre bem. Também vivo um dia de cada vez, mas nem sempre é fácil ver o lado positivo em todas as situações, mas vamos tentando, o que já é bom. Tentar ver a beleza, o positivo e o lado mais simples é meio caminho andado para a felicidade. (Ou se calhar sou eu que sou muito naïve) 🙂

  6. As crianças à vezes podem ser mázinhas. E por acaso nunca pensei que terias sido vitima destas histórias. Que me fizeram recordar as minhas, em que gozavam comigo por eu ser gordinha, como já te contei 🙂
    O importante é recordar estas coisas e retirar o bom delas. As pessoas que nos marcaram pela positiva. Pensar nas coisas boas que temos.
    E comer essa saladinha boa! Adoro cuscus e espargos e cogumelos secos.
    Um beijinho.

    1. Inês, umas por serem gordas outras magras… eu nem por uma coisa nem por outra… e por vários motivos ao mesmo tempo. Quando os miudos resolvem implicar uns com os outros não precisam de ter motivos … eles tratam de os encontrar.

  7. Joãooo olé 🙂

    Bem faltava aqui o comentário de alguém que conhece a autora do blogue e que também era aluna da Prof. Laura Aroso 🙂 Foi uma excelente professora que tivémos João e que a mim marcou-me pelo lado humano e pelo estímulo que nos dava, aquilo que líamos e escrevíamos 🙂

    E a tua salada está lindissima e mesmo d acordo com a licão de primavera da Prof. Laura 🙂

    Beijinhos grandes da Pat (ex-neighbour) 🙂

  8. Sabes Mª João, também eu fui vitima de bullying praticamente até entrar na universidade. Por alguma razão havia sempre quem tivesse motivo para implicar comigo: ou porque era participativa demais nas aulas, ou porque tinha a boca demasiado grande (consegues imaginar os insultos que esta despoletava?!), ou porque simplesmente tinha o narizinho empinado… ou pura e simplesmente por me chamar susana…
    E também eu tive uma lição de uma professora. No 10º ano, já demasiado farta e cansada pedi para mudar de turma por me ser insuportável o assédio constante. A minha diretora de turma, professora de inglês, teve uma conversa comigo e disse-me "Susana, tens de fazer uma escolha. Ou foges deles agora e eles ganham ou enfrentas a situação. Mas lembra-te, se fugires agora irás passar o resto da vida a fugir dos problemas" Aquilo marcou-me profundamente. Fiz a escolha acertada e a verdade é que até hoje nunca fugi de nada.
    Adorei a tua partilha e a tua salada primaveril e que, com certeza, te deixou mais feliz. E só espero que já tenha passado o que quer que tenha sido… 😉

  9. Olá Mª João, gostei muito desta tua partilha, realmente as crianças/adolescentes podem mesmo ser crueis. Engrançado, sem o ser, hoje falava com a minha mãe sobre um adolescente que se recusa a ir para a escola e está muito mudado, falávamos que poderia ser um caso deste tipo! Cada vez mais comum e os pais muitas vezes nem têm forma de sabes o que se passa realmente, porque eles não falam!
    Ainda bem que tiraste algo positivo desta história 🙂 A tua saladinha está um mimo!
    Bjinhos e resto de boa semana!

  10. Olé Maria João! Bem, tu és tão bonita, loirinha, olhos azuis… incrível como é que te podiam dizer essas coisas, desconfio que eram ciúmes e dor de cotovelo. A Dra. Laura Aroso não foi minha professora, mas conheço-a e sei que é um doce 😉 É tão bom quando alguém nos deixa assim recordações tão positivas. A salada ficou linda e deve ser deliciosa. Beijinho feliz 😉

  11. Olá Maria João, gosto sempre das receitas mas desta vez gostei tanto do texto que não resisti a comentar. Às vezes basta olhar para as flores, para o céu, para os pássaros, e há sempre alguma coisa para nos fazer feliz. Always look on the bright side. Espero mostrar às minhas filhas em cada dia tal como a sua professora lhe mostrou a si.

  12. Olá Maria João, gostei muito da receita e mais ainda do texto. Há sempre alguma coisa porque estarmos gratos, alguma coisa que nos pode fazer feliz – uma flor, pássaros a cantar, sorrisos… Espero passar o mantra "always look on the bright site" às minhas filhas como a sua professora fez.

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